Poupança vai ter papel de mitigar volatilidade do juro no crédito imobiliário
A poupança seguirá tendo uma função no crédito imobiliário, mas será mais no sentido de mitigar a volatilidade nas taxas de juros, e não de promover o crescimento desse crédito, afirmou hoje o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Sandro Gamba, ao comentar sobre a transição para um novo modelo de funding na indústria.
Segundo ele, "a poupança vai ter o papel dela, mais de mitigante de volatilidade do que de suportar o crescimento. [...] A poupança vai ser um instrumento para ajudar na formação da taxa de mercado". Ele fez os comentários durante painel na 26ª Conferência Anual do Santander CIB. De acordo com Gamba, historicamente, o crédito imobiliário no Brasil tem uma taxa 1,5 ponto porcentual abaixo da taxa de mercado. "Essa diferença vai cair".
O novo modelo de crédito imobiliário brasileiro deve dar fim ao direcionamento da poupança para o financiamento e permitir que bancos usem esses recursos, que são mais baratos, desde que eles concedam crédito habitacional no mesmo montante. Atualmente, 65% dos recursos da poupança precisam ser direcionados para o crédito imobiliário, 20% têm de ficar no Banco Central (BC) na forma de recolhimento compulsório e outros 15% são de uso livre pelos bancos. A ideia é que essas obrigações não existam mais, tanto de direcionamento quanto de compulsórios, e que as concessões sejam feitas a partir de instrumentos de mercado.
Ou seja, caso o banco capte R$ 1 mil com instrumentos de mercado e conceda esse valor em crédito imobiliário, teria R$ 1 mil em recursos da poupança, que têm um custo menor, para usar como desejar. Com isso, a ideia é que a poupança sirva como um equalizador das taxas, mantendo o custo de crédito próximo ao que é praticado no modelo atual.
Segundo Gamba, o BC tem realizado de forma muito positiva as discussões com o setor e não há definição ainda sobre como vai ser o novo modelo. "De qualquer forma, a transição será feita de forma bastante suave. O que está sendo colocado é uma transição de, no mínimo, cinco a oito anos. Tem de se esgotar o saldo de crédito imobiliário atual para realmente entramos na totalidade do novo modelo".
Ele comentou que, hoje, o estoque de poupança no funding imobiliário é de cerca de R$ 750 bilhões, enquanto o estoque de letra de crédito imobiliário (LCI) é de R$ 450 bilhões. "Nessa discussão de transição no setor, a LCI vai se tornar mais relevante, é onde vai ter crescimento".
Rodrigo Wermelinger, diretor de relações institucionais da construtora Plano e Plano e ex-diretor de crédito imobiliário da Caixa, comentou que alguns pontos na transição ainda estão em aberto. "Hoje, operações do FCVS [Fundo de Compensação de Variações Salariais], de home equity, contam para o cumprimento da exigibilidade do crédito imobiliário. Isso faz sentido? Deveria ser um crédito destinado à habitação", comentou.